Aqui, na Rússia, Bélgica, Alemanha, Hungria, Irã, Iraque, em qualquer ponto deste planeta, existem almas que desejam mais, bem mais do que simplesmente passar o tempo até a morte. Há almas que sentem a dor a cada instante, que jamais se sentiram completas ou reveladas a si. Será que a divindade permite este tipo de resposta? Será?
Seria loucura este anseio latente em cada partícula da alma? Seria uma obsessão essa a de saber quem é? Por quê? Qual o sentido de tudo? Quais as respostas para essas tantas e tantas questões? Por que estou no mundo? Por que você está aqui?
Por que, apesar de todos os momentos de dor, a esperança sempre venceu, por um esforço totalmente à parte da minha compreensão e fora da minha percepção? Como foi que eu encontrei alguma força para tentar conectar palavras e trazer alguma construção de significados que pudesse me fazer algum sentido ou quem sabe sentido para alguma alma no planeta?
Já me permiti violência em muitos momentos. Já me permiti mutilações em muitos momentos. Já me permiti os mais profundos ferimentos na alma. Mas ainda não havia me permitido a nudez. Ainda não havia permitido o esvair das vestes, lama. Se ver em crueza, em fragilidade, em tantas deficiências, é angustiante. Se ver tão disforme, tão sem forças, com a sensação de impotência ‘tão essencial’, é muito angustiante.
As transformações não acontecem apenas porque queremos. As mudanças levam um tempo, porque nossas escolhas nos pedem preços e pagá-los é uma questão que não envolve absolutamente nenhuma força, pelo contrário, envolve fraqueza. É na impotência que aquilo que realmente tem lutado na alma para ser polido e brilhar, ganha força.
Para uma alma limpa, para que uma restauração se faça, primeiro é preciso lidar com as feridas, com cada partícula de dor, com a feiura dos tantos espaços dilacerados na alma. É preciso lidar com a própria nudez, com a vergonha e com a responsabilidade que surgirá ao nascer da dignidade de ser restaurado.
É absolutamente insano para muitos. Não tem sido mais ao meu eu.
Quando nenhum espelho te mostra a si é porque os próprios olhos se esquivaram a todo momento. Quando nenhum espelho te mostra a si é porque escolheu não ver-se. E ao se ver, é apenas nudez, é apenas impotência, são feridas, são mutilações. É quando os olhos se abrem que algo divino começa a acontecer – o processo de cura. A esperança nunca deixou de existir, a paz nunca deixou de habitar, o que muda é que com a enxerga de si, a escolha é a de se apropriar de quem com muito custo AINDA chegará a ser.