Santa Leitura: Uma Biblioteca a Céu Aberto, de Belo Horizonte, MG

 

 

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Santa Leitura: Uma Biblioteca a Céu Aberto é um projeto idealizado por Estella Cruzmel e nasceu por uma necessidade da artista plástica, que desde 1997 trabalhava com moda, e ao montar a sua loja, decidiu se envolver com a leitura ao mesmo tempo em que oferecia um agrado aos clientes.

Peguei uns 50 livros que eu tinha em casa, comprei mais alguns e montei uma biblioteca dentro da loja com uma estante do lado de fora, onde as pessoas que passassem pela rua pudessem ler. Todos os dias tinha o jornal com notícias fresquinhas. Rapidinho a notícia foi se espalhando, e não demorou muito, tinha gente de outros bairros pegando livros emprestado, relata Estella.

Para ela, o mais importante foi o público infantil que adotou o espaço como ponto de leitura, surgiam na loja depois do horário da aula e passavam na biblioteca. Esse interesse das pessoas pelos livros, principalmente das crianças, fez nascer em Estella um desejo de trabalhar apenas com os livros, e em 2012, ela fechou a loja para se dedicar ao universo da leitura.

A magia da leitura atuava sobre a pequena Estella

Estella nasceu e cresceu em uma fazenda no interior de Minas Gerais, e sempre teve muitas dificuldades com a leitura, principalmente com  o acesso aos livros.

A gente não tinha nem vizinhos para troca de experiências, quanto mais livros! Tive uma infância feliz apesar de tudo. Meus pais passavam muito amor e companheirismo, isso me ajudou bastante. Vim pra Belo Horizonte, casa da minha vó pra estudar, já estava com 10 anos. Nessa época comecei a ver um livro na mão da professora, me lembro mais ou menos que o livro chamava Lalau, Lili e o Lobo, já procurei pra comprar, mas não achei. Depois o contato foi com A canção dos tamanquinhos, da Cecília Meireles, conta.

O contato de Estella com os livros até então era apenas visual e auditivo, os livros eram lidos pela professora, depois de um tempo, ganhou a sua primeira obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos e o leu algumas vezes no decorrer da vida. Ficara impressionada com a retirada daquela família para fugir da seca e com a necessidade de ter que matar um papagaio de estimação para sanar a fome:

Me lembro de O Ateneu, de O Escaravelho do Diabo… A partir do momento que comecei a trabalhar com livros, passei a ver que não há nenhum outro caminho para a liberdade, para o crescimento individual e do nosso país. A leitura nos leva  para um mundo melhor. Hoje, quando estou realizando o evento eu me pergunto por que naquela época não existia gente pra levar para as crianças alguns momentos lúdicos como esse do Santa Leitura.

Como funciona o projeto Santa Leitura: Uma Biblioteca a Céu Aberto?

O projeto acontece em Belo Horizonte, Minas Gerais, sempre ocorre em lugares abertos, preferencialmente em praças públicas, que segundo Estella, proporcionam um ambiente democrático em meio à natureza:

Com  centenas de livros espalhados pela praça em estantes e passarelas, várias atividades são realizadas durante as manhãs de domingo, dentre elas, a contação de histórias, oficinas, poesias, entre outras.

O projeto Santa Leitura tem parceria com o pároco Márcio Ribeiro de Souza, da igreja do bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte.

Fiquei na praça Duque de Caxias em Santa Tereza durante cinco anos, o padre além de me auxiliar com campanhas para doação de livros, também anunciava durante as missas de sábado e domingo. O maior problema do Santa Leitura sempre foi o livro infantil, quase não conseguimos doação. Conto também com a Cléo Zocrato do Edifício Maletta, ela é responsável pelo Santa Leitura do bairro Floresta, em que são colocados 10 livros por dia no banco da praça Salvador Morici, para doação.

Estella conta que também são parceiros do projeto, os contadores de histórias, oficineiros, poetas, seus vizinhos, etc.: “O projeto não caminha sozinho, é uma equipe. Conto também com a parceria da Ana Neres e padre João, da Comunidade Sagrada Família, do bairro Novo Taquaril, que me cederam o espaço pra fazer o evento e guardar o material usado”,

Autores favoritos de Estella e Vidas Secas sempre significando a sua vida

Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Machado de Assis e Graciliano Ramos, estão entre os seus autores favoritos. Vidas Secas é a obra que marca a vida de Estella no presente. Quando leu a obra, imaginava apenas o povo nordestino como retirantes, mas hoje, vê o povo da Síria, Colômbia e até o jovem brasileiro que sai de seu país em busca de melhores oportunidades.

WhatsApp Image 2018-06-13 at 11.26.32No dia 22 de julho, Estella Cruzmel lançará um livro infantil, O nascimento de Benjamin, pela Páginas Editora, na Casa Fiat de Cultura. Ela conta que o livro a faz lembrar de Vidas Secas e da saída de sua filha do Brasil, a princípio para um curso de intercâmbio de seis meses, mas que se tornou definitiva, resultado da busca por melhores oportunidades: “O Brasil e o mundo é isso, uma grande retirada de Graciliano Ramos”.

Estella cita O Alienista, de Machado de Assis como um livro importante para ela, por tratar das questões do outro.

O que pode mudar a realidade da leitura no Brasil?

Estella acredita que inicialmente o que é importante para o incentivo da leitura no Brasil é o interesse por parte dos governantes, já que essas ações são parte de políticas públicas em torno da Educação e Cultura:

Somos um país de analfabetos. Não estou nesse projeto à toa, tenho lutado pra levar livros ao maior número de pessoas. O brasileiro, ao contrário do que todo mundo pensa,  gosta de ler sim, mas não está tendo dinheiro pra por nem comida na panela. Não falo desse povo que viaja, vai ao teatro, cinema, restaurantes bons, não! Eu falo da periferia,  daqueles que levantam cedo pra  trabalhar o dia todo e trazer comida pra dentro de casa. Esses não têm acesso a nada, é pra eles que temos que trabalhar, a maioria. Só assim podemos ter um país desenvolvido, a leitura enriquece o vocabulário, abre portas.

Estella se menciona como exemplo: “Conheci um livro em idade avançada e até hoje sofro as consequências. Penso que tem duas coisas que todo bairro deveria ter para preparar as crianças, – uma praça de esportes e uma biblioteca ao alcance das crianças –, para que elas não venham a cair no ócio e a fazer besteiras”.

Como doar para o projeto Santa Leitura: Uma Biblioteca a Céu Aberto

Atualmente, o projeto está recebendo apenas literatura infantil.

Há um posto físico de coleta na Pizzaria Giovanni, no bairro Floresta, em Belo Horizonte.

Estella Cruzmel também pode ser contatada pelos telefones: (31) 3425-7572/99752-6952

Fanpage do projeto Santa Leitura: Uma Biblioteca a Céu Aberto

 

 

 

 

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