Por trás dos cacos, existe um brilho inalterado, embaixo da poeira na alma, há esperança de dias melhores. Ela é divina, tem traços de orgulho comedido e guarda algo importante sobre a mulher em pedaços — ela é cachoeira estupenda que brota do alto das rochas. (trecho da obra Mulher Quebrada)
Há pouco me deparei com o grupo e não quero sequer mencionar o nome do candidato, apenas menciono a hashtag #Elenão como a marca do movimento contra o fascismo. O que tenho refletido, muito mais do que a situação tenebrosa política vivida no Brasil, é sobre a união dessas mulheres, grupo no qual me incluo.
Contra o fascismo, contra a propagação de preconceitos, contra o discurso de ódio, a apologia à tortura, à manifestação do ‘falso’ poder, essas entre outras representam o cerne do grupo, criado pela baiana Ludimilla Teixeira. É muito significante para milhares de mulheres, mas nem todas no Brasil ‘ainda’ compreendem o significado dessa luta, mas fica o respeito à escolha daquelas que não desejaram participar seja por qual razão for.
A minha reflexão é sobre a união feminina em prol dos próprios direitos, em uma luta por respeito, por voz, por abaixo aos preconceitos, pela busca por significados, é uma luta muito particular para cada mulher, apesar da proporção nacional e fora do país.
Engraçado como só quem compreende essa importância, essa necessidade de luta, consegue não apenas se comover, mas se abstém do externo que envolve: críticas, ódio, violência, e vivencia de maneira particular os significados desse movimento.
Um homem atualmente reúne os atributos de uma sociedade doente, reflete os pensamentos, preconceitos, extremos, e isso precisa ser denunciado de alguma maneira, a Ludimilla sentiu isso, tomou uma atitude que imagino que foi impetuosa, mas para ela, era necessária, criou um grupo, no meio digital, que seria o único refúgio para que mulheres se unissem e passassem a compartilhar as suas experiências, os seus desejos e esperanças.
É feminismo, é loucura, é doença… Essas mulheres não estão de forma alguma preocupadas com os julgamentos porque se sentem unidas, se sentem abraçadas, é muito complexo quando não temos espaço na nossa sociedade para sermos quem somos ou quando querem tirar a possibilidade de seres humanos de serem o que quiser no mundo.
Há milhares de anos, mulheres são chamadas de histéricas quando emitem a sua opinião, quando dizem NÃO a mais uma tentativa de silenciação.
Sou a favor da liberdade de expressão, sou a favor das bruxas, das malditas, das putas, das loucas, das feministas, das mulheres que lutam para expressar a sua singularidade no mundo. Sou a favor das atrizes, da manifestação da arte pelo corpo e percepção da mulher. Sou a favor da igualdade, da liberdade, da consciência do ser mulher no mundo.
Cada mulher percebe-se no mundo de uma maneira, algumas ainda não se sentem plenas em si mesmas, outras não fizeram sequer esse questionamento de quem são no mundo ‘ainda’.
Enquanto eu estiver viva eu não vou permitir que me silenciem, enquanto eu estiver viva terei esperanças no mundo, sério, no mundo todo. Enquanto eu estiver viva eu vou torcer muito para que o mundo me conecte com pessoas corajosas que desejam muito ser quem são e que reconheçam o valor dessa liberdade aqui na Terra. Que o mundo me conecte a pessoas (independentemente de gênero) que exerçam a si no mundo, contra todas as formas de violência.
O significado dessa união se deu mais por aquilo que só entendemos vivendo: sororidade, fico muito emocionada, mas é uma emoção paradoxalmente racional, que me faz vibrar como ser humano, é uma emoção de saber que existem mulheres assim como eu, que querem muito ser o que são e lutam pelo seu espaço.
E ainda que nos aconteça o pior (friso que minha emoção está sob a autoridade da razão agora), continuo imensamente feliz por essa conexão que o universo fez, nos mostrando o quanto somos parecidas. Apesar das nossas diferenças, temos a mesma sede por ser quem somos, e essa na minha percepção, é o grande significado desse movimento.
Sentia que cada parte, cada pedaço sem ligadura que me mantinha mulher para a sociedade, mutilava-me, era um espectro feminino sobrevivendo sem vestígio de qualquer essência. Carregava monstros, era a portadora de uma alma rasgada e as lágrimas que escorriam eram frutos de desespero e crença de que jamais pudesse encontrar quem sou. (trecho da obra Mulher Quebrada)