Sou sozinha, mas não estou sozinha – isso eu afirmo hoje depois de definitivamente admitir que por mim mesma, que com a minha própria ‘ajuda’ não conseguiria me livrar de muitas bagagens. Comecei a ajuntar esses pesos desde a infância e fui amontoando sobre as costas uma série de cargas, que só hoje entendo que eram cargas desnecessárias, que não faziam parte do que era existir.
Mal podia compreender que o meu ato de existir tem um funcionamento, passei a ouvir isso muito depois de retomar a terapia. Tenho feito as pazes comigo em muitos aspectos e aprendido a lidar com o que é meu, com o que é a minha essência e com aquilo que posso vir a melhorar.
Sim, eu me exponho quando escrevo e faço isso porque é o jeito que encontro para me achegar mais a você, apesar da distância física. Quem escreve tem muitas cicatrizes, tem muitas dores, tem muitos pesos e essa é uma das razões pela qual escreve, para dizer a si também o que sente, como uma maneira de refletir em algum momento. Reproduzo quem sou, de maneira inconsciente muitas vezes, nas letras, nas personagens.
Hoje eu respeito meu deleite no silêncio e entendo que o falar é expressão da alma e do coração, e sei que preciso esvaziá-lo mais para que não me afogue.
Eu admito que não posso sozinha… Isso hoje, depois de muito sofrer, de muito chorar, de muito padecer em silêncio. Eu admito minhas fraquezas, meus problemas, minhas deficiências humanas, admito que tendo ao drama e que sou muitas vezes tomada por euforia emocional e que isso me derruba muitas vezes.
Admito que meu ego por muito tempo falou mais alto, admito que já afirmei muitas vezes que sou quem sou e que não mudaria jamais, mas estar em processo de mudança me mostra que tenho sido pela primeira vez… aos poucos.
Admito que muitas vezes sinto medo, que choro em silêncio, que me falta muitas vezes paciência para o meu próprio eu. Admito que muitas vezes julgo, que muitas vezes permito que maus sentimentos me ceguem, mas logo minha consciência me convida a voltar ao meu eu como uma guia.
Aprendi e tenho aprendido que admitir a pequenez é a base de todo avanço. Admito minha condição limitada, admito que um corpo físico que está acabando sob a força do tempo é muito pouco para o que a minha alma carrega.
Admito que sou pó, que sou ninguém, que sou vaso de barro, admito que sou só um facho de luz no mundo (desde que eu me examine para irradiar). Vamos admitir que somos seres limitados, vamos admitir que precisamos de ajuda, que sozinhos não podemos caminhar. Vamos repensar dia após dia a nossa caminhada? Quem somos? Quem gostaríamos de ser? E quem de fato, com a nossa matéria-prima única, podemos vir a nos tornar?