Quanto tempo você consegue passar na sua presença? Você precisa sempre interromper um momento de quietude consigo para fazer qualquer coisa que não permita o ‘barulho’ em sua mente? Eu já fiz isso por muito tempo, me incomodava qualquer momento em que eu precisasse ficar a sós comigo mesma. Eu ligava para uma amiga, marcava de fazer qualquer coisa e ‘preenchia’ o tempo com algo que não fosse ter de lidar comigo.
A maioria das coisas que a gente exerce vivendo em sociedade requer um certo distanciamento de um relacionamento mais íntimo com a gente. Chegou um dia em que eu não conseguia mais fugir de me relacionar comigo e era como se eu tivesse que me encarar e não conseguisse fazer isso de maneira confortável, me sentia na presença de uma estranha. Parece loucura, mas acredito que não seja só comigo, talvez você se sinta assim nesse momento.
Tudo o que a gente faz quando está sozinho é uma maneira de conhecer quem somos. Uma música, um filme, um livro, uma frase, uma situação de frustração vivenciada dentro da nossa consciência… Muitas coisas nos levam a nos encarar e em muitos momentos pode ser muito desconfortável.
Em muitos momentos, pouco antes da minha primeira experiência com a terapia, eu tinha a sensação de desencaixe, era como se a minha alma não estivesse no meu corpo, eu não conseguia falar comigo. Relacionamento é conversa e é preciso conversar com quem a gente é. Eu tinha uma mania de falar muito comigo na terceira pessoa e isso foi ficando mais ameno quando comecei a falar com um terapeuta sobre as minhas questões mais profundas. Não era loucura como eu achava que fosse, era uma maneira de me relacionar comigo, um pouco fora de foco naquele momento, mas era uma maneira de estabelecer um contato, uma amizade comigo mesma.
Essa pessoa que a gente é agora pode nos aborrecer em muitos momentos, às vezes a gente pode até chegar a se desconhecer, mas é preciso insistir, para que a nossa alma se revele para nós. Muitas vezes eu grito quando estou no mais profundo silêncio, e dentro da minha aparência de calma, às vezes habita uma vasta escuridão de desconhecimento e agonia. Mas aprendi a não desistir dessa pessoa que sou agora, a não desistir de tentar me entender, não posso me ignorar mais, como já fiz por tantos anos.
Você espera que os seus relacionamentos em sociedade sejam melhores e mais saudáveis, mas você está em silêncio para si mesmo. Você tem ignorado quem é, tem evitado falar consigo, tem evitado se confrontar, tem deixado de procurar se entender.
Acho que ainda vou ter muitos momentos de discussão comigo mesma, vou ter muitos momentos de tensão para resolver com a minha própria existência, mas não vou desistir. Sei que o ser que sou é alguém que poderia amar mesmo se eu não fosse eu (risos). Sei que o humor que me habita os pensamentos, por mais triste que eu me sinta em alguns momentos, seria agradável para qualquer outra alma que o exercitasse.
Não desista de quem você é hoje, mesmo que esteja tudo desmoronando. Não desista mesmo que esteja com a sensação de estar desenfreada rumo ao precipício. Não desista quando estiver a sós consigo e tiver que lidar com um ‘ser estranho’. Só não ignore mais a pessoa que passará o tempo que tiver que passar com você, que é justamente você, sim, soa bem estranho de ler, mas é isso. Não se ignore mais. Esqueça por um momento os relacionamentos passageiros e foque no relacionamento que vai durar o tempo da sua vida.
Muito bom!
Aguardo a sua visita e os seus comentários!
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