Vamos à minha saga com essa leitura clássica. Durou mais de cinco meses, isso mesmo, e sempre que eu voltava à leitura, precisava reler dois ou três capítulos para prosseguir com o livro. No começo, é uma leitura mais fácil, mais dinâmica, você conhece o narrador, Ishmael, conhece os principais personagens dessa história como Queequeg, Ahab, Starbuck, Stubb, Elijah, Capitão Boomer, claro que o cachalote Moby Dick, entre outros personagens.
Você entra no navio Pequod junto com os tripulantes e começa nessa jornada de caça às baleias, que vai se tornando um tanto entediante em muitos momentos, mesmo com a tentativa de Herman Melville de tentar ‘aquecer’ essa história a cada curto capítulo. Talvez eu tenha entrado nessa história com uma visão pré-concebida de que era um livro clássico e difícil de ler. Não é difícil de ler, é uma aventura que cansa, mas que vale muito a pena.
O mais louco de ler esse livro é que em determinados momentos você começa a repensar a sua própria vida. A bordo do meu Pequod, estava revezando entre Ishmael, Ahab e Moby Dick. Ora eu era uma narradora na minha história, ora estava na caça obstinada como Ahab e ora eu precisava ser ardilosa como um cachalote driblando a perseguição.
E quando começar a se tornar complicado de ler?
Em muitos momentos, Melville começa com uma narrativa enciclopédica, o que não me ajudou muito no processo da leitura. O que eu fazia quando o livro ia se tornando cansativo era parar, você não precisa levar mais de cinco meses para ler como eu (risos), mas pode se dar um, dois dias de descanso, se a jornada no Pequod estiver um pouco pesada.
Esse é um livro que me fez pensar bastante, talvez porque eu estivesse vivendo um momento semelhante ao de Ishmael, a bordo de um navio em mar desconhecido. Mesmo não sendo uma leitura fluida (na minha opinião), o que me fazia prosseguir lendo Moby Dick era saber se enfim o cachalote seria finalmente caçado. Esse mistério é a principal peça-chave nessa obra, até porque, por meio dele, como leitores, ficamos conhecendo outros mistérios, principalmente os que envolvem Ahab e sua obstinação nessa caça.
O que mais me impactou no livro?
“Considere tudo isso, e então se volte para esta terra tão verde, suave e dócil: ambos considere, o mar e a terra; e você não acha que existe uma analogia estranha com algo dentro de você? Pois, tal como o oceano aterrador cerca a terra verdejante, também na alma do homem há um Taiti insular, cheio de paz e alegria, mas rodeado por todos os horrores da metade desconhecida da vida.”
Dos trechos do livro que me marcaram, esse é, na minha opinião, o mais belo e profundo. Nossa alma pode ser de uma imensidão de paz e alegria, mas fora dela, há uma escuridão impossível de ser dissipada pela luz. Conforme vivemos, aprendemos, e evoluímos, parte dessa escuridão deixa de existir e o desafio é sempre não permitir que os horrores contaminem a alma, matem os sonhos e aprisione a essência.
Vale a leitura, vale a aventura, vale chegar em Nantucket, adentrar no navio baleeiro Pequod, rumar ao encontro dos terríveis cachalotes. Talvez assim, como foi comigo, o cachalote seja ter se encontrado com essa obra e descobrir que, no final, esse animal estupendo é só a nossa capacidade louca de sonhar, e o nosso desafio, é não permitir que o matem.