Ele estava lá, me esperando, com uma calma tão irritante!
Resisti porque era forte, porque era barato, porque estava encorpado além da conta.
O tempo foi passando e eu fui repensando minha vida, escolhas, e ele estava lá, me esperando, com aquela paciência irritante.
Continuava bem encorpado, muito além do amargo, muito letal para o meu momento.
Foi tão paciente que mereceu a minha inspiração, por alguns minutos… preciosos.
A paciência dele foi tomando meu sangue, minhas veias, foi me dilatando as pupilas e me tornando mais quem sou.
Ele, tão barato, tão ruim, tão paciente e tão acalentador. Puta amigo esse vinho!
De uma embriaguez que me toma a alma, que me faz gozar em chamas, em uma percepção sobre quem sou.
Vinho barato. Que me rende palavras, pontos finais, ausência de pensamento na tal coerência.
Vinho barato. Encorpado. Paciente. Amigo por tanto tempo ausente… pela minha ingratidão.
Cá estou eu. Vinho amado. Cá estou eu, na embriaguez do teu puro álcool e amargor.
Cá estou eu, te rendendo palavras.
Viva à tua fidelidade, à tua compreensão calada.
Vinho barato, obrigada pela tua espera, pela tua esmera, pelo pouquinho a mais de espera.
Agora somos um, e dessa união um pouco mais de consciência, um pouco mais de inspiração. Um pouco mais de quem sou, dentro de minh’alma.
Vinho barato! A ti palavras neste dia. A ti a minha doçura tão urgente e tão contrastante com o teu amargor.
O alívio dos poetas. O remédio para os sonhadores em chamas. O remédio para o desamor. Mas talvez, o desamor seja o bendito a colocar em contato realidades tão similares: poeta louco, vinho barato e que venham as palavras, percepções e loucura.
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