Dentre os clássicos da literatura brasileira, está a autora Rachel de Queiroz, que embora seja conhecida, é muito resistida, principalmente entre as pessoas mais jovens. Me cito como exemplo, fui apresentada à Rachel quando adolescente, numa daquelas leituras obrigatórias, que já fazem com que a pessoa crie uma resistência à obra antes mesmo de ler.
Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, Ceará e foi a primeira mulher a ingressar na ABL (Academia Brasileira de Letras), ocupante da cadeira número 5. Ela é uma importante autora do movimento Romance de 1930 (que tinha como enfoque as questões regionais e sociais).
Além de escritora, Rachel era jornalista, tradutora, cronista e também teve importante participação na dramaturgia brasileira.
O primeiro livro que li da Rachel foi o primoroso O Quinze (obra inaugural) da carreira literária da escritora. Confesso que mesmo resistente, fui vencida pela escrita nua e crua. Pela primeira vez vi a região nordestina sob o olhar de alguém que descortinava o cenário árido em um misto de sensibilidade e realidade em carne-viva.
O estilo da escrita de Rachel é objetivo, racional, de fala dura e focada na realidade de seu tempo. Segundo a autora Maria Alice Barroso, é com Rachel de Queiroz na prosa de ficção, que a fala da mulher ingressou no campo social, abandonando os salões de chá para narrar a áspera tragédia da seca nordestina.
Principais obras – Nordeste narrado brilhantemente
Dentre os principais romances de Rachel de Queiroz, estão: O Quinze (1930), João Miguel (1932), Caminho de pedras (1937), As Três Marias (1939), Memorial de Maria Moura (1992), entre outros.
Como cronista, algumas das obras são: O brasileiro perplexo (1964), A donzela e a moura torta (1948), As menininhas e outras crônicas (1976), Cem crônicas escolhidas (1958), entre outras.
A beata Maria do Egito (1958) e Lampião (1953) estão entre as peças de teatro escritas pela autora.
O Quinze
O que esse livro tem de tão importante para a literatura nacional? O foco da narrativa dessa obra é o Ceará e Rachel descreve de maneira impecável o sofrimento dos nordestinos em meio à seca, mais especificamente em 1915, razão do nome da obra.
O livro relata a busca dos homens do interior por uma vida melhor na capital, e muitas vezes ao chegar à capital, aquilo que esperavam, não ocorria, o que levava a maioria a seguir para São Paulo.
O Quinze conta a história da família de Chico Bento, que ao longo da trama, vai se perdendo (filho morre, filho se perde, um deles fica com a madrinha), todos vão se perdendo, o que refletia o problema da seca, que traz o sofrimento, a ausência, inclusive, de afeto.
As Três Marias
Essa é uma obra em que muitos críticos apontaram traços biográficos da própria autora. O livro conta a história de Maria Augusta, Maria José e Maria da Glória.
Maria Augusta é a personagem principal e narradora da história e apresenta muito do discurso na autora Rachel de Queiroz e de suas experiências pessoais.
Essas “três Marias” se conhecem em um internato e nesse contexto tudo é proibido e pecado. As experiências dessas meninas vão sendo narradas, tanto no período do internato, como na realidade fora dele. Elas amadurecem em contato com as angústias, frustrações, luto, etc.
Cada uma dessas mulheres faz uma escolha, uma delas opta pelo casamento, outra, pela vida religiosa, já Maria Augusta, se mostrava uma mulher à frente do seu tempo, querendo mais do que era aceitável na sociedade em que vivia, assim como a escritora.
Realidade, sensibilidade e mergulho
Não é difícil mergulhar na literatura de Rachel de Queiroz, não será preciso muito esforço para compreender sua linguagem, sua narrativa, suas descrições. É justamente a vida em sua presença e movimento, com a objetividade dos fatos e a sensibilidade na descrição das emoções.
As mulheres nas obras de Rachel são as grandes protagonistas e não tem como não associar sua narrativa à busca da mulher por seu espaço na sociedade, por seu destaque, voz.
Se quiser conhecer mais dessa tão importante escritora brasileira, comece por O Quinze ou As Três Marias, sinta o poder da racionalidade unida à sensibilidade na narração dos sentimentos humanos.
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