O que é ser mãe na sociedade de hoje? Não recorra a frases, a músicas, a filmes, a livros, etc. Se for ou não for mãe, apenas responda a si mesma: o que é ser mãe?
A maternidade é um assunto que gera inúmeras reflexões, razão disso é a quantidade de blogs, de canais no YouTube, de perfis no Instagram, Facebook, etc., falando sobre o tema sob diferentes perspectivas.
Antes de entrar no assunto maternidade, é preciso refletir sobre a maternagem, que é caracterizada pelo afeto, pelo desejo de cuidado e do sentimento, sem qualquer vínculo com a condição biológica. Faz parte da maternagem as ações: amar, cuidar, proteger, ensinar, entre outras.
Ambas, maternidade e maternagem, são escolhas. E quando se fala em escolhas, podemos esbarrar em uma série de “estranhamentos” e preconceitos.
A complexidade é que durante muito tempo, a maternagem foi pensada como parte indissociável da maternidade, como função feminina, parte da natureza da mulher. Mas muitos autores apontam para o fato de que essa dedicação da mulher ao papel materno esteja muito relacionada a uma transposição social e cultural de suas capacidades de dar à luz e amamentar.
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Diferentes papéis da maternidade – escolhas e inevitáveis críticas
Não se pode falar em maternidade sem mencionar a historiadora francesa, Elisabeth Badinter, que em seu livro Um Amor Conquistado: O Mito do Amor Materno, expõe o vínculo materno tradicionalmente descrito como “instintivo” e “natural”, resultado de uma construção de discurso filosófico, médico e político a partir do século XVIII.
Quando se fala em diferentes papéis da maternidade, é preciso mencionar as muitas transformações vivenciadas pelas mulheres nos últimos séculos, a mulher atual assumiu muitos papéis que antes eram desempenhados exclusivamente por homens, obviamente isso impacta em seus projetos pessoais.
A ascensão profissional fez com que muitas mulheres decidissem pela maternidade “tardiamente” ou repensassem o papel masculino no cuidado dos filhos, optando pela maternidade (produção) independente.
Muitas mulheres, por outro lado, optaram por uma vida profissional e acadêmica em detrimento da maternidade.
Essas escolhas ainda sofrem questionamentos por parte de uma sociedade com apelo tradicionalista e dessas cobranças sociais, implícitas ou não, talvez um questionamento se torne ainda mais necessário: qual o papel da mulher na sociedade? A maternidade seria ainda, em pleno século XXI, o ápice da realização feminina?
E quanto às discordâncias e divisões dentre o público feminino? Como se fosse uma guerra e não uma questão de escolha, o ser ou não ser mãe.
Levando-se em conta a questão de que a maternagem (o ato de cuidar resumidamente), nem sempre é parte da maternidade, muitas mulheres exercem a maternagem ou o que “deveria”, segundo a sociedade, ser uma expressão da maternidade, ainda que não tenham filhos, ou seja, podemos em nossa geração afirmar que, dentre os muitos e diferentes papéis da maternidade, está o de ser mãe, sem filhos.
Algumas mulheres optam pelo abandono da carreira para se dedicarem exclusivamente ao cuidado com os filhos; outras precisam lidar com a realidade de ser mãe solo, ou seja, com o cuidado com os filhos sozinhas, além de lidar com a vida profissional; muitas experimentam a maternidade ao lado de parceiras e enfrentam o preconceito tão ultrapassado e ainda tão atual, o que já se enquadra no conceito de família que precisa ser constantemente repensado.
Ser mãe, literalmente engloba uma série de complexidades e diferentes configurações em nossa sociedade atual e nas tantas sociedades existentes no mundo.
Quem não deseja ter filhos ainda é considerada anormal. Quem não deseja mais se dedicar à carreira porque quer se dedicar apenas à maternidade, também é considerada anormal. Ainda há preconceitos quanto às mães solo. A mãe que tem uma companheira ao lado ainda é encarada como anormal. Resumindo: não importa qual a escolha da mulher, sempre haverá críticas e “açoites”.
O ideal é que as mulheres reflitam entre si sobre os tantos papéis de maternidade existentes. Ainda que a opção seja não ter filhos, de alguma maneira (considerando a maternagem como “parte” da maternidade em uma visão tradicionalista ainda dominante), é possível ser mãe no cuidado ao próximo, no ensino, na possibilidade de emitir afeto.
São muitas as cobranças e é grande a bagagem que a mulher carrega apenas por ter nascido mulher. Qual o papel que você desempenha dentro da maternidade? Acha que desempenha a maternagem sendo ou não mãe?
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