Mãe solo é um termo que tem sido cada vez mais utilizado, em substituição ao “mãe solteira”, que aliás, carrega uma carga negativa, já que sugere que “falta algo”. A maternidade não depende de um relacionamento estável, além disso, a família composta pela mãe e filhos é tão completa quanto qualquer outra dentre os muitos modelos de família.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período de 2005 a 2015, o número de mães solo no Brasil saltou de 10,5 milhões para 11,6 milhões. Das famílias comandadas por mulheres, 56,9% vivem abaixo da linha da pobreza. O número de crianças sem o registro do pai na certidão de nascimento já soma 5,5 milhões.
Além disso, há uma série de questões sociais, como em pleno século XXI, mulheres ainda serem questionadas sobre quem é o pai da criança ou sofrerem preconceitos pelo fato de criarem os seus filhos sem a presença do pai.
O portal Mulher Quebrada entrevistou algumas mulheres, que são ou foram mães solo, para dividir as suas experiências na criação dos filhos sem a presença do pai.
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O que é ser Mãe Solo? Relatos Reais
“Estado civil não é condicionante para ser MÃE.”

É nisso que acredita a assistente social, Simone Garcia, que hoje vive em Campos do Jordão, São Paulo. Ela é mãe de João Vítor, de 25 anos. Simone estava casada quando resolveu planejar a chegada do primeiro filho, aos 29 anos. Tinha um problema de saúde conhecido como ovários micropolicísticos que, segundo o seu médico, inviabilizava a gestação, porém passados três meses, descobriu que estava grávida.
Quando contou ao marido sobre a gravidez, a notícia não foi tão bem recebida quanto esperava, com três meses e meio de gestação, Simone decidiu se separar, acreditando que a relação poderia piorar com a chegada do filho.
“O maior desafio em ser mãe solo e que muito me tirou o sono foi: Será que dou conta? Serei suficientemente boa? Trabalhei muito, às vezes em dois, três empregos para conseguir dar conta de ser provedora e mantenedora dessa vida e da minha mãe que teve um papel fundamental para a formação e criação do meu filho”, relata Simone.
A assistente social também menciona o irmão do meio, Flávio Garcia, como importante na criação de seu filho: “Meu irmão é de verdade o pai do meu filho. Quando me separei, minha mãe não permitiu que eu fosse morar sozinha como era o meu desejo, então aluguei uma casa e fomos morar, minha mãe, meu irmão e eu”, acrescenta.
Simone relata já ter sofrido uma série de preconceitos por ser mãe solo, como quando uma escola em que o seu filho estudou costumava fazer distinção entre as crianças de família constituída por mãe e pai e as de outros modelos: “Precisei registrar esses abusos na Secretaria de Educação em nível estadual, na ocasião”.
A assistente social também fala sobre as dificuldades quando o assunto são relacionamentos: “Só entro em relacionamentos que aceitam o meu filho, ou então essa pessoa terá de sair do nosso círculo”, enfatiza.
Para as mulheres que são mãe solo, Simone aconselha:
“Se empoderem com conhecimento e trabalho. Nunca deixei de estudar e trabalhar para ser “apenas” mãe. Não permita que nada e ninguém se intrometa na sua relação de mãe e filho. Isso é poderoso demais. Hoje o meu filho é formado em História, sendo que a sua monografia teve nota máxima, morro de orgulho. Tudo o que fiz, tenho certeza de que valeu muito”, conclui.
“Não estamos sozinhas.”

É o que enfatiza a cantora Lauane Ramos, de São Paulo. Ela foi mãe da Luara aos 27 anos e hoje a filha tem 8 anos de idade.
A artista não vê como desafio ser mãe solo, pois contou e conta com a ajuda de pessoas especiais: “As dificuldades que tive são aquelas que toda mãe tem e teria, mesmo se tivesse a ajuda de um companheiro”, acrescenta.
Para as mulheres que enfrentam o desafio de ser mãe solo, Lauane aconselha:
“É super importante ter alguém para ajudar, mas se não tiver, procure ajuda em sua comunidade. São sofra sozinha, pois não estamos sozinhas”, finaliza.
“Só eu sabia do meu tesouro.”

É o relato da escritora, produtora cultural e diretora da Casa da Palavra Mário Quintana, Sonia Varuzza, de Santo André, que diz que o mais difícil em sua experiência como mãe solo foi não ter alguém para partilhar sua maravilhosa família.
“Meu filho dizia que era cientista aos cinco anos. Raquel se tornou trapezista aos quatorze e Carol era a grande conciliadora. Só eu sabia do meu tesouro. O pai e o resto da família viram a riqueza quando já estavam formados”, conclui.
“São oito anos em que minha vida mudou.”

É o que acredita Jacqueline Ferreira Nunes, mãe do Nicholas de oito, que hoje vive em Plano, uma cidade americana na região do Texas. Ela conta que faz parte da sua experiência como mãe solo, pensar primeiro em seu filho sempre.
“Como eu vou prover para ele? Como vou sustentar essa criança emocionalmente e financeiramente? Tudo o que eu faço por ele agora vai refletir na vida dele no futuro”, acredita.
Jacqueline conta que foi muito difícil ter de fazer tudo sozinha, ainda mais vivendo fora do país. Além de prover casa e comida, sua preocupação também está no desenvolvimento de seu filho como criança, em como ele está do ponto de vista emocional, em como ele está lidando com o processo da educação na escola, etc.
“Fiquei muito cansada emocionalmente em muitos momentos. Se ver sozinha em uma jornada é difícil. Saí de uma relação com o coração ferido e precisava ser âncora para o meu filho. Me vi em país totalmente diferente, tendo que aprender a língua e cuidar da adaptação do meu filho nesse novo lugar”, relata.
Para as mães solo, Jacqueline ressalta que, independentemente de relacionamentos, a mulher sempre é mãe solo, é aquele porto de segurança para o seu filho.
“Ele tem relacionamento à distância com o pai e jamais falo qualquer coisa negativa do pai para ele. Por mais que a criança tenha essa presença da mãe, uma figura masculina faz muita falta, meu pai supria muito essa falta, mas nesse ano, devido à pandemia, ele não conseguiu viajar para nos ver”, acrescenta.
Para as mulheres que são mães solo, ela aconselha:
“Precisamos de apoio emocional e psicológico para que a gente possa ajudar de verdade os nossos filhos. Nós nos cobramos muito, mas tenha a consciência de que você está dando o seu melhor, porque perfeito realmente ninguém consegue ser. Só aprendemos a ser mãe, sendo”, conclui.
Você é mãe solo? Qual é o seu relato? Comente aqui. Será um prazer conhecer a sua história. A sua jornada pode inspirar outras mulheres.
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