25/11/2020 – levantei 9h:30 depois de não ter dormido nada. Estou há quatro semanas dormindo depois das 7h e acordando às 10h ou não dormindo nada. Chorei hoje da hora que acordei até 9h:55.
Não preciso ir a lugar algum, porque trabalho de casa, então passei uma camada fina de base para corrigir as olheiras, mas que não são o suficiente para disfarçar os olhos pós-choro.
Ser uma pessoa ansiosa e ler sobre ansiedade
Talvez assim como eu, você tenha lido muitos textos sobre ansiedade, geralmente escritos por especialistas e tenha feito o que geralmente se faz que é tentar se relacionar com aqueles sintomas ali descritos.
Descobri que sofro de ansiedade nesse ano, logo no início, antes da pandemia. Ano passado, por volta de novembro, passei a ter episódios recorrentes de insônia, minha qualidade de vida foi muito afetada e meu emocional estava totalmente abalado. Não estava fazendo terapia naquele momento, havia parado no meio de 2019 por motivos financeiros.
Logo após o Natal, tive a minha retomada à TCC (terapia cognitivo-comportamental), a insônia persistia e minha preocupação era essa: queria dormir. Foi assim, que descobri com a ajuda do especialista que estava na verdade tendo crises de ansiedade.
Assim como eu, você já deve ter dito que “ansiedade todo mundo tem” e como pessoa diagnosticada já deve ter ouvido o mesmo de inúmeras pessoas.
Mas sofrer de ansiedade e ler sobre ela revela um abismo de desconexão. Porque somos pessoas únicas e vamos demonstrar o problema, cada um de uma maneira.
As pessoas têm um estereótipo de pessoa ansiosa que é aparentemente visível. Mas há muitas pessoas, assim como eu, que aparentam calma, que dificilmente expressam suas preocupações, que verbalizam pouco os seus problemas, mas que carregam em si e na mente um caos.
Sofrer de ansiedade é muito mais complexo do que achar que é uma preocupação com o dia de amanhã ou que estamos vivendo no futuro e não no presente. É muito mais do que achar que ficamos culminando pensamentos sobre coisas da nossa vida o dia todo, principalmente antes de dormir.
Viver com ansiedade é o seguinte…
Você está lendo isso de uma pessoa ansiosa. Esses são relatos de alguém que está apenas usando a sua capacidade de se comunicar por meio da escrita.
Viver com ansiedade:
- É pensar muito, às vezes naquilo que nem você mesma consegue lembrar depois. Sim, há momentos em que o ritmo de pensamentos está tão frenético que é como se uma avalanche de pensamentos passasse pela mente, sem que esses pensamentos pudessem ser identificados um a um. Imagina comer um prato repleto de ingredientes, de olhos vendados, você conseguirá identificar um ou outro ingrediente e olhe lá;
- É sentir medos absurdos, de coisas muito pessoais, significativas apenas para você;
- É ter sensações muito estranhas sobre determinados episódios. Exemplo: eu não me sinto bem no final do ano. Me sinto angustiada e geralmente minha ansiedade se intensifica nesse período;
- É vivenciar relacionamentos de uma maneira um tanto particular, para não dizer caótica, mas aos poucos, conhecendo os próprios problemas, vamos lidando conosco de maneira menos punitiva e mais amigável;
- É ter a sensação em alguns momentos de que está caindo, caindo, caindo, como na descida de uma montanha-russa;
- É sentir o coração disparar e ter que respirar repetidas vezes profundamente até sentir que o ritmo de pensamentos está desacelerando novamente e talvez seja necessário repetir esse processo centenas de vezes em um único dia;
- É querer em alguns momentos se esconder de si mesma para não ter que encarar esse lado tão difícil.
São tantos sentimentos… E o que eu sinto pode ser parecido com o que sente, mas ainda assim, teremos experiências diferentes.
Ainda não tomo medicamentos para a ansiedade, porque até então o meu especialista não achava que seria necessário, mas terei uma consulta agora, nessa sexta, com um psiquiatra, para uma primeira experiência com medicação.
Estou escrevendo sobre isso porque sei que nada do que se lê sobre o assunto, ainda que elucide muitas dúvidas quanto ao problema, não representa muito o ser ansioso, porque cada pessoa vai sentir de uma maneira, e há fases em que sente-se mais e outras em que se sente menos.
Desejei em alguns dias sem dormir, sumir. Isso não quer dizer que desejei morrer, mas ano passado, quando tive minha primeira crise de insônia, houve uma manhã em que disse muito cansada, que gostaria de morrer. Sequer sabia sobre ansiedade e estava entrando em colapso.
Nem todas as pessoas, aliás, a maioria não pode pagar por um tratamento psicológico ou psiquiátrico. Os tratamentos gratuitos na rede pública levam um tempo, que muitas vezes, não acompanha a urgência do descontrole emocional da pessoa que está procurando ajuda, mas ainda assim, são uma alternativa.
Conselhos de uma pessoa ansiosa
Disse que esse texto não é de alguém especialista, mas de uma paciente em tratamento. Sim, é fundamental procurar ajuda especializada.
Há muitas formas gratuitas também, que talvez levem um pouco mais de tempo, como é o caso do Instituto de Psicologia da USP, em que a pessoa preenche um formulário e por meio dele será encaminhada a um tratamento breve, com sessões on-line.
Em cada município, sempre vale pesquisar, porque há órgãos municipais que podem oferecer tratamentos gratuitos. Se você sabe de um aí da sua cidade, compartilhe, isso pode ajudar outras pessoas.
Queria terminar o texto dizendo que se você está tendo uma crise, parecida ou não com as minhas dessas últimas semanas, saiba que você não é uma pessoa sozinha. Uma das razões pelas quais escrevo é porque acredito que posso servir ao mundo com a minha escrita. Me escreve, por e-mail, por aqui ou pelas redes sociais.
Esse é um texto de alguém que vive essa realidade e que não escreve só sobre aquilo que é bonito e legal de ler.
Você pode falar comigo.
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Me vi nesse texto. Passei a sofrer de ansiedade depois que minha mãe morreu, faz uns 2 anos. Minha vida mudou muito de lá para cá. Fui diagnosticado há 1 ano e meio. Tomei medicamento por um tempo, mas já não preciso mais.
Tive uma fase de não conseguir dormir também, mas já me consultava com uma psicóloga e mal tinha grana para pagar a terapia, então demorei um tempo para ser atendido pelo sistema público. Passiflora me ajudou um pouco, assim como tentar ouvir música clássica e respirar. Sei muito o que é isso e meu coração ficou apertado pq sei bem como é e não desejo isso para ninguém. nunca sentimos tudo do jeito que a gente vê por aí, é muito difícil, mas tbm não demonstro ser ansioso, pelo contrário. Muito legal ter chegado a esse texto. Fiquei muito interessado em ler mais coisas, já até assinei aqui. Bj
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Gabriel, obrigada por compartilhar o seu relato. Que bom que já não precisa mais fazer o uso da medicação, é realmente uma avaliação que só o especialista pode fazer, caso por caso. Que você consiga cada vez mais conhecer a si e lidar cada vez melhor com esse problema. Grande abraço
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Oi! Desde 2017 vim tendo episódios de TAG que, obviamente, eu nem sabia o que era. me angustiava com o trabalho, o futuro incerto, o que fazer depois de formada. Enfim, fui apenas empurrando com a barriga. Até meados do ano passado quando eu simplesmente pifei. Começava aí um quadro depressivo que está aqui até agora… mas enfim dando sinais de melhora!
O que me trouxe ao teu texto foi a questão da insônia. Sou da mesma forma que você! Eu não durmo, não tem nada que me faça dormir. É o sinal número um que algo vai errado. E só quem passa a noite em claro entende o desespero que é isso… Desde 2019 estou tomando medicação, mas não gosto de remédios específicos para dormir, só quando a crise ta braba mesmo. Mas o que aprendi nessa jornada é que nem sempre o que funciona para um, funciona para outro ansioso. Para mim, cortei café, refrigerante só até meio dia. E não me obrigo a dormir. To tentando me libertar e dormir na hora que quero/dá. Aproveitando as vantagens do home office!
Desejo melhoras! e sorry pelo texão! =)
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Bel, também cortei café, todo e qualquer tipo de estimulante e como você estou nessa autolibertação de dormir quando realmente bate vontade. A privação de sono realmente é algo muito impiedoso com o corpo e com o emocional… Obrigada pelo depoimento e desejo que fique bem também… ❤
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