Não temos mais estação certa. O sol arde no Sul às vezes mais tórrido do que no Norte. Não é fácil achar o caminho, há trilhas por toda parte por entre as estradas.
Outro dia vi a luz irradiar janela afora e ficava comigo pensando na sombra do meu quarto. Como é difícil estar na luz! Como se decidir pela luz leva tempo e demanda ânimo! Como é sozinho estar no mundo seja em você mesmo ou na multidão.
O sol arde intensamente e ainda assim não afugenta o inverno, será preciso muita luz para convencer a caminhada.
Meu ‘vaso de flor da felicidade’ parece que está dormindo. Não houve flores nessa primavera, foi podado e acredito que fiz algo errado ou que não tenho mão para a terra, mas é estranho, porque vejo as pequenas novas folhas se amontoarem, bem pequeninas, mas isso levará tempo. Não verei suas flores tão cedo.
Também penso que a poda de mim mesma está estranha. Sinto as pequenas folhas nascendo, mas sem tanta força. Estou plantada em terra árida, com fendas sob o sol. Estranhamente sei que de algum lugar águas brotarão, revitalizarão o solo e o transformarão em fértil novamente.
A felicidade está dormindo e, enquanto isso, preparo a mesa para a sua chegada. Tem um pouco de fé guardada na jarra do coração e um tanto de esperança sendo preparada na fornalha dos sonhos.
As flores demorarão a surgir, mas posso vê-las, com uma resolução baixa, aquém do que são, com o máximo que posso imaginar e colorir.
Há movimento por toda parte e sigo sentindo cada mover vagaroso em meu ser. As horas passam, mas o tempo verdadeiro é outro.
Muitas muralhas foram derrubadas ao meu redor e preciso levantar bases que nunca existiram.
As flores da felicidade não virão por agora – é o que me repito em pensamento -, elas não virão por agora.
Elas são laranjas e amarelas, numerosas e acetinadas. São pequenas e talvez sonhem em ser vermelhas.
As flores não virão por agora. Dormem. Esperam. Não tenho certeza se a poda foi correta, mas há pequenas folhas verdes se amontoando e sei que delas surgirão botões… não agora.